DOIS
PONTOS
Era ainda jovem, rebelde e se envolveu com muitos caracteres (alguns deles maus-caracteres). Conheceu o i, não deu certo, era muito imbecil. Conheceu o j, foi um saco, era jovem demais, muito juvenil. Conheceu a interjeição (!), foram felizes por um tempão, mas não deram certo não; a interjeição não aceitava indagação e se transformou numa interrogação. Com tal questão sobre si, o ponto resolveu sair por aí. E conheceu a vírgula. Era muito boa companheira, mas sempre que se juntavam, se desentendiam; a vírgula queria continuar, o ponto querendo de vez parar. E, desse ponto de vista, ponto e vírgula não deram certo.
Depois dessa, o ponto dormiu no ponto e não quis se envolver com mais ninguém. Se alguma letra quisesse com outra se juntar, lá vinha o ponto a parar. Era um estraga prazeres, acabava sempre com a última palavra e terminava a sentença. Estava muito rebelde o ponto. Fazia o que queria. Se alguém quisesse dizer: “Eu te amo”, pronto, o ponto aparecia antes que um nome surgisse.
A vida estava ficando fora de tom para o ponto. Como queria conhecer alguém interessante!
Mas, um belo dia, apareceu alguém igualzinho ao ponto. Era um outro ponto. Cara de um, ponto do outro. Foi amor à primeira teclada. O ponto olhou para o outro e no coração sentiu uma pontada. Assim, se uniram com muito amor, formando dois pontos. E como se davam bem. Jamais cortavam a dos outros. Desde que se uniram, sempre deixavam que as letras falassem mais, pois, ao invés do ponto solitário, que parecia um sinal vermelho, interrompendo o fluxo das frases, eles juntos exigiam complemento. Foi uma união completa.
Foi uma união tão completa que esta história de amor não poderia ter um ponto final. Não. Pois quando dois pontos se unem, todos sabem o que acontece:
Dilton Cardoso
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