
ELA SEGUE SINUOSA todos os dias para o Salvador Shopping. Nada me pede, nada me diz.
Antes de escorrer feito água por meus dedos, marca no ponto de ônibus – e mais tarde no coletivo – um encontro de olhos, vivências distanciadas pelo tempo cronológico, horas arrastadas na enxurrada de descaminhos.
Seus olhos azuis, profundos, lábios de menina com birra, são inquisidores. Eles querem saber o que busco nas águas cristalinas do seu cristalino. Nada peço, nada imploro. Apenas contemplo.
Ouço um crepitar de labaredas no seu rosto, a Santa Inquisição de uma garota com ares de deusa, pronta para acionar seus cavaleiros na missão de me aprisionar e perguntar: "Porque me olhas assim?".
E eu sigo seus passos, e vejo seu rosto, e me delicio com suas formas redondas, círculos circunscritos em carne macia e aveludada. Nada peço, nada digo. Apenas olho.
E mais uma vez me perco em seu passo compassado, rumo à loja onde exibe sua beleza. Frouxo, nenhuma coragem de guerreiro para apenas lhe dizer: "Bom dia, obrigado por existir e me encantar".
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