“This world
is a yellow submarine, yellow submarine, yellow submarine”. A canção dos
Beatles, que diz que o mundo é um submarino amarelo, não sai da minha cabeça. E
eu entendo bem o que eles queriam dizer. O meu mundo é um submarino amarelo.
Para ser mais exato, uma barriga amarela, a barriga amarela da minha mãe
amarela. Já são oito meses que eu estou
neste submarino, louco para sair daqui e ver como é o mundo lá fora. Afinal,
este é um submarino estranho: a água está dentro ao invés de estar fora. No
entanto, é uma água superagradável e eu me sinto no paraíso, mesmo quando o
submarino amarelo balança demais. É... a minha mãe, às vezes, parece que está
brincando de bambolê.
Ouço ruídos lá fora. Mas só ouço ruídos: sons de
liquidificadores, buzinas, campainhas... Parece que meu pai não é muito bom da
bola. Vocês acreditam que ele fica contando histórias infantis para mim? Que
tolo! Parece que tem miolo mole. Eu coloco o ouvido na parede do submarino, mas
não escuto nada. Se eu pudesse gritar e ele me ouvir, eu daria uma bronca: “Ei,
daddy, segure a onda. Guarde o fôlego para quando eu sair daqui”.
Minha mãe também não é lá muito certa da bola. Ela vive
dizendo (é a única voz que ouço no momento) que estou chutando, que isso aqui
(o submarino barriga) não é um campo de futebol, que o Palmeiras não está
jogando. Ora bolas (bolas?!?? Chiii! Já estou ficando com a mania do futebol),
eu não estou chutando... eu estou é querendo sair daqui. Êta submarino apertado
levado da breca!
Quando eu botar a cabeça para o lado de fora garanto que vou
tirar o atraso. Vou sair correndo por aí afora. Por sinal, ouvi a minha mãe
falar que já ganhei um carrinho, um carrinho de bebê. Ela falou que é um
carrinho bonitão, que vira cadeira e vira Moisés (sei lá o que é isso!). O
primeiro carro a gente nunca esquece!
O carro é quase todo verde, paranoia do meu pai com o
Palmeiras. Não importa. Até vou gostar. Quando eu estiver dentro dele, vou
soltar os freios e sair por aí conhecendo as ruas, avenidas, ladeiras, becos...
Vou querer ver como é tudo. Eu acho que vou gostar do mundo lá fora... O mundo
lá fora... Será? Bem... e se eu não gostar? Ah! Tenho a opção dos Beatles
(afinal meu nome tem Lennon: é David Lennon). Arranjo um fone de ouvidos sem
fio, volto para o meu yellow submarine e fico escutando as lindas fábulas que
só meu pai sabe contar.
David Lenon, na barriga da mãe
Por Dilton Cardoso
Um comentário:
Lua...
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